quarta-feira, 14 de março de 2012

Sou folha de papel (crônica de um engarrafamento)

Da janela do carro vejo um pedaço de papel que flutua por entre o fluxo congestionado e congestionante da hora do rush. A brisa bate e a folha sucumbe, alterando a direção.
 A motocicleta que costura o trânsito fazendo vento e ruído modifica mais uma vez o rumo.
Na outra mão, livres e fluindo velozes, automóveis possantes, alheios aos limites que imperam do outro lado, passam como rojões.
A folha voa alto agora, como se ejetada para a liberdade das alturas. Ao pairar, lembra uma garça a observar os reféns enclausurados das quatro paredes de aço.
Observo que, lentamente, vai repousando. Momento de calmaria. Que sensação libertadora a de poder voar.
Mas, cuidado, está caindo, e os monstros de aço podem esmaga-la.  Adeus vôo, adeus liberdade momentânea.
Que limite enfim entre o êxtase e o fim.
Lá se foi uma imagem... era minha miragem no deserto do engarrafamento em que me encontro.
Sinto-me um pouco folha de papel.
Vou e volto conforme as intempéries do tempo, dos outros, da máquina...
Mas, espera! Se sou papel, não quero ser como a folha sem rumo, esmagada pelo tráfego da vida.
Antes, pegarei uma caneta e escreverei um enredo envolvente. Com direito à trilha sonora que hora acalenta e hora impulsiona.
Sou papel e sou protagonista. Sou autora e sou personagem.
Você quer me ler?

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