domingo, 4 de março de 2012

O desabafo de Maria

 Maria não tinha mais paciência para enigmas e nem pessoas enigmáticas. Não estava disponível para amizades e nem outro tipo de relacionamento que exigissem jogos e estratégias. Não estava disposta a ter que ler em branco, ouvir no silencio, traduzir rabiscos e indiretas, fazer chover no molhado, dar nó em pingo d'água, muito menos estava apta a lidar com ilusionistas, cuspidores de fogo, palhaços e andadores de corda bamba. Maria estava na fase de Descomplicar. Queria transparência, objetividade, autenticidade, distância de hipocrisia e frescuras. Portanto não esperem de Maria uma cara de satisfeita quando estiver irritada; não esperem que ela finja não querer se ela estiver com vontade; que demonstre ingenuidade se estiver entendendo tudo. Não esperem que ela puxe saco por interesse, que deixe de falar ou fazer por medo; que ande de cabeça baixa mesmo se estiver fragil. Se isso é uma indireta? Não, Maria decidiu não mandar mais recados. Cumpre apenas. Ela custa a desistir de algo ou de alguém. Prefere esgotar possibilidades para garantir sua consciência tranqüila. Mas quando Maria enjoa, ela evapora. Culpada, Maria? Que atire a primeira pedra quem não tiver culpa....

Valéria Aguiar

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