Maria não tinha mais paciência para
enigmas e nem pessoas enigmáticas. Não estava disponível para amizades e
nem outro tipo de relacionamento que exigissem jogos e estratégias. Não
estava disposta a ter que ler em branco, ouvir no silencio, traduzir
rabiscos e indiretas, fazer chover no molhado, dar nó em pingo d'água,
muito menos estava apta a lidar com ilusionistas,
cuspidores de fogo, palhaços e andadores de corda bamba. Maria estava
na fase de Descomplicar. Queria transparência, objetividade,
autenticidade, distância de hipocrisia e frescuras. Portanto não esperem
de Maria uma cara de satisfeita quando estiver irritada; não esperem
que ela finja não querer se ela estiver com vontade; que demonstre
ingenuidade se estiver entendendo tudo. Não esperem que ela puxe saco
por interesse, que deixe de falar ou fazer por medo; que ande de cabeça
baixa mesmo se estiver fragil. Se isso é uma indireta? Não, Maria decidiu
não mandar mais recados. Cumpre apenas. Ela custa a desistir de algo ou de alguém.
Prefere esgotar possibilidades para garantir sua consciência tranqüila.
Mas quando Maria enjoa, ela evapora. Culpada, Maria? Que atire a
primeira pedra quem não tiver culpa....
Valéria Aguiar
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