terça-feira, 29 de maio de 2012

Anita fará amor com o Silêncio

E hoje o grito de Anita será de Silêncio. E quem quiser ouvir, que ouça. E quem não quiser, ela não lamenta. Anita sabe que o Silêncio é filho da Dona Sabedoria e que seu pai se chama Senhor Tempo. Anita está decidida a cortejar o Silêncio. ... A se deixar ser seduzida por ele e a se entregar, numa entrega tão absoluta, que resulte numa explosão de justiça e paz. Anita hoje deseja o Silêncio com a fome dos abutres.... Com a sede dos beduínos.... Com a determinação dos garimpeiros.... Com a sagacidade dos piratas.... Com a coragem dos Alpinistas.... E com a curiosidade dos mergulhadores.... Hoje, Anita fará amor com o Silêncio.... Um brinde a essa entrega....

segunda-feira, 21 de maio de 2012

À flor da pele e em carne viva....


Não procurava culpados, nem mártires... não apontava carrascos, nem santos.... não precisava de mais dogmas, nem de visões apocalípticas... não ansiava por conto de fadas, nem muito menos queria descobrir o quê havia no final do arco-íris... não sonhava com príncipes, nem pretendia beijar sapos... não almejava ser canonizada ou entendida.... não se importava que a xingassem, nem que a ignorassem...  queria tão pouco!!!!
A paz que precisava estava no direito de ir aonde seu coração mandasse... ser escrava somente dele.... a realização que desejava estava em amar sem dosador... abrir mão da fita métrica, da balança e do termômetro... Seu peso e sua medida não estavam no amor que pudesse receber, mas no direito e no dever de se esfolar por inteira por quem ama, de sentir todo o sentimento que há no mundo, mesmo que custasse a carne viva....
Queria experimentar o gosto do mundo, pelo preço que fosse justo. Tinha uma fome devoradora de vida... tinha pressa. Não tinha tempo a perder... “vou ali e já volto”, mesmo que não voltasse mais, iria... e não duvidava que a estrada fosse longa... e não temia que houvesse pedras, contando que fossem jogadas somente nela e não nos seus. Ter a faca no pescoço não a intimida, até porque já teve e para sempre estará cravada na sua jugular...
Só temia lavar as mãos. A crise que a abalava era a da inércia. Era aquela que caminhava e buscava sempre... Levava apenas uma pochete cafona, mas que cabia todo o amor que houvesse no mundo... A força que precisava estava no fruto das suas entranhas... não precisava se dividir para amar, mas se multiplicaria sempre pelo infinito do seu amor.
Tudo só faria sentido se olhasse para trás e visse que brotaram flores por onde andou... não sabia o tempo que duraria a jornada, mas desejava que fosse o suficiente para escrever uma história honesta e digna... que honrasse e fizesse valer o sacrifício dos seus pais... que inspirasse e orientasse os passos dos seus filhos e que servisse de expiação e reparação para suas faltas...
Tudo o que queria da vida era o direito de viver de verdade, com todos os exageros, discrepâncias, incoerências, ousadia e metáforas que sua condição de criatura permitisse....
Deixar sangrar, pois em último caso, o sangue poderia matar sua sede....

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O insustentável peso da vida

Entre o todo e a leveza, eu prefiro a liberdade.
Até porque não creio em nada e ninguém que seja tudo ou que seja nada.
Vejo cada um como parte de um todo que se completa, à medida que se permite que cada um seja o que quer e o que pode ser.
Nesse sentido, incomodam-me bagagens pesadas demais. E, mais do que isso, pessoas que carregam bagagens pesadas demais.
Eu gosto mesmo é de gente, mas confesso preferir as que são leves.
Que não se auto-intitula proprietária da verdade;
Que não se auto-nomeia crítica das coisas que ninguém solicitou opinião;
Que não carrega rótulos demais, conceitos pré-definidos, verdades absolutas e dogmas inalcançáveis.
Gente que não se importa com o tamanho da saia da vizinha, com o sexo dos anjos, se o sonho é preto e branco ou colorido, pois está ocupada demais em sonhar seu  próprio sonho, em costurar sua própria saia e que não abre mão da companhia angelical, independente do gênero.
Gosto tanto do tipo de gente que quanto mais entende, menos sabe...
Que não se explica o tempo todo... que não tem uma justificativa para cada suspiro...
Gente leve que geme sem sentir dor e não tem pudor disso.
Gente que assume que usa máscaras, mas que as tira de vez em quando para respirar... e eu fica linda com o rosto suado...
Gente que não precisa sair por aí dando a cara à tapa, mas não tem o menor problema em dá-la a beijos...
Gente que puxa orelha, mas que mordisca também.
Eu gosto de gente que não incorpora o profeta do apocalipse, mas que procura estar sempre de bem com o mundo, pois sabe que ele pode acabar hoje ou a daqui a um milhão de anos....
E como eu não sei nada, mas como a Lispector, desconfio de muita coisa, alicerçada no dito popular “Diga com quem andas, que direis aonde vais”, prefiro andar com gente leve... E, assim, quem sabe, eu torno meu insustentável peso da vida, mas fácil de carregar....



quinta-feira, 10 de maio de 2012

Eis quem chega...

Acontece sim, e não raras são as vezes, que no afã de se ter ou de se sentir no controle de tudo, nem percebe-se que visitantes ilustres batem à porta e, quase nunca, se está em casa para abri-la.
Seria simples. Bastaria destranca-la, dar boas vindas e receber o abraço largo, com cheiro de vida e recheado de boas novas.
Bom dia, Senhor Inusitado! Boa tarde, Senhora Surpresa! Boa noite, meu caro Inimaginável! Fique à vontade, Dona Aventura!
Fixar à fachada: “Fui ali viver e não tenho hora para voltar”.
 Ou, “”aqui não são bem vindos os mensageiros das Mágoas, das Frustrações, da Baixa Autoestima, do Preconceito  ou da Vingança”.
Construir casa sobre rodas e com ela ir aonde o coração pede e a razão deixa.
Estar sempre em casa, mas nunca parado.
Se a terra gira, quem será tolo de não se virar também?
Que surpresa boa perceber que, às vezes, o Senhor Prazer  chega com cara de menino.
Que bom ser livre para abrir a porta e reconhece-lo no rosto do visitante.
Que maravilha poder dizer: Pode entrar,  a casa é toda, toda, sua.