sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mas, se hoje é sexta-feira....

Mas se hoje é sexta-feira, o que eu ainda estou fazendo aqui, dentro de mim?
Hoje é dia de se ejetar para fora, de sair do casulo e se desnudar. Tem planeta girando, tem estrela nascendo, sol explodindo de energia, a lua mais tarde vai dar show no céu... tem balé de pássaros, mistérios se desvendando no fundo do mar, tem manga no pé prontinha para ser chupada, enquanto, se senta em uma pedra  esculpida há anos pela natureza, os pés balançam nas águas de um rio, que adiante cairá em cachoeira.
Mas se hoje é sexta-feira, o que eu ainda estou fazendo aqui, dentro de mim? Tem roqueiro fazendo solo de guitarra por aí, tem dançarinos reproduzindo movimentos de cisnes,  tem vovó fazendo  broa de milho com café, tem casinhas brancas com varandas em algum campo.... têm montes a serem escalados e que oferecem em seu topo o cenário e recompensa.
Tem filme de Kurosawa para viajar e livro de Fernando Pessoa para sonhar.... Tem quadro de Picasso para se excitar e tem Roberto Carlos, You2, Pearl Jam, Aerosmith, ACDC e Coldplay  para se teletransportar...
Mas se hoje é sexta-feira, o que eu ainda estou fazendo aqui, dentro de mim?
Tem mãos estendidas à espera de abraços, tem gente caída à espera de um empurrão, tem sorrisos por serem desenhados, tem muita gargalhada para dar junto, tem boca molhada pronta para beijar, tem barrigas famintas para alimentar e tem  choro para consolar...
Sim, hoje é sexta-feira. Dá-me licença, preciso sair de mim.
Sigam-me os Sãos....

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Forasteiro Tempo

Manipula a contento, e ilude, o Feiticeiro tempo.
Miragem nebulosa, que cega e confunde.
Impera majestoso, e a miúde, razão e sonho funde.
Por deveras, sorrateiro, arrasta e arranca forasteiro.

Em tudo há nada, e em vazia povoa.
Enlaça, distrai e derruba, quase à toa.
Brinca, disfarça a farsa, dança às custas e depois voa.

Domina, antes se faz sina.
Parte em cacos, cola pedaços e fascina.
Monstro, anjo, bruxo, menino...
Espectro, lapso, métrico, colapaso...

sábado, 14 de abril de 2012

Escrevo, logo existo!


Escrever às vezes sangra
Descobre o curativo
Expõe a ferida
Expurga o que era imundamente guardado

Escrever às vezes chora
Esvazia a lixeira das lembranças
Põe de molho vestes encardidas
E desinfeta cantos angulares

Escrever às vezes sua
Exercita os músculos que faltam ao cérebro
Barras, pesos e esteiras fortalecem
E ajudam a carregar o mundo nas costas

Escrever às vezes ri
Sublinha as anedotas do dia
Transforma os tombos e piruetas em palhaçada
E faz da vida um picadeiro

Escrever às vezes sonha
Acordado, a cores, com começo, meio e fim
Se vai à lua ou à esquina, derruba muros, constrói pontes
Leva ao Japão ou para a cama

Escrever às vezes goza
Arrepia, mordisca, sussurra
Transforma o instante em eternidade
Faz de dois, um só. E de gemidos gritos de prazer

Escrever às vezes constrói
Transforma verbo em gente
Multiplica pães e peixes
E faz das pedras canteiros.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Memórias de Clara


Clara não era frustrada, mas não negava alguns resquícios de lástimas.
Não sofria por isso, entendia que, simplesmente, deixava de ser ainda mais feliz.
Não havia em Clara a obsessão por  ir atrás do tempo perdido, mas procurava compensá-lo à altura.
Costumava dançar em frente ao espelho, mas não dedicara-se à arte da dança como pretendia...
Sempre se viu andarilha, mas, ao contrário, Clara não percorrera os quatro cantos do mundo como planejara...
Ela que amava partilhar experiências, não conquistara o diploma de mestre, como se programara...
Admirava os moços do outro lado do mundo, mas Clara ainda não conhecera o nobre cavalheiro oriental dos seus sonhos...
Como Clara era imaginativa... Bastava fechar os olhos para se ver dançando de rosto colado com o mais lindo dos samurais, rodopiando pelo globo terrestre e ainda dando aula de como ser feliz.
E quem ousará dizer que Clara não era realizada?
No que estava ao alcance de suas mãos, Clara tratou de não perder tempo. Apressou-se em ser mãe dos filhos que idealizou. E como fazia isso com gosto.
Fazia do trabalho, uma religião. E com que prazer fazia isso.
No mais, quem será capaz de negar que Clara tinha o dom de alcançar seus sonhos, apenas fechando os olhos?
Para Clara, ser feliz era uma questão de ponto de vista, de imaginação, muito de entrega e um pouco de resignação.
Para Clara, ser feliz era  questão de momento, de comprometimento, de determinação e alento.
E o que são resquícios de lástimas, diante de tanta vontade de ser feliz...
Sim, Clara era uma fabricante de imaginação!
Não era à toa que perdera a conta das vezes que assistira a sonhos, de kurosawa.
Mas Clara não era feita apenas de sonhos, era a própria construtora de vida. Era a realidade em pessoa. Porque ela acreditava que para ser feliz, bastava sonhar e estar vivo.

sábado, 7 de abril de 2012

Dia do Jornalismo - uma história de paixão e responsabilidades


Era ainda muito criança quando sonhei pela primeira vez em me tornar uma jornalista.
No início, parecia a ideia genial para satisfazer o desejo da menina de estar perto de sua paixão. O amor pelo futebol foi herdado do meu pai. Acho que encontrei no Flamengo a melhor forma de ser cúmplice do meu velho. Eu sabia tudo sobre o time, não perdia uma só partida e era inseparável do meu radinho de pilha. Que fórmula incrível a menina que eu fui descobriu para estar perto do homem mais importante de sua vida.
Quando fiquei mocinha, o presente que eu queria, era ir ao Maracanã pela primeira vez. E como foi inesquecível aquele Flamengo3x2São Paulo, de virada pelo Campeonato Brasileiro. Só que nessa altura, ao completar 12 anos, a paixão já era minha também. E mais do que uma rubronegra, eu era uma “Ziquista”. O Galinho de Quintino era o ídolo da minha vida. E a vontade de ser jornalista já não era mais apenas uma estratégia para estar perto do que gostava. Nessa ocasião, já era uma certeza: eu nasci jornalista.
Isso me exigiu adaptação. Precisava me preparar para o desafio. E foi uma mudança atrás da outra. E como eu crescia em paralelo com a minha vocação. Comecei a faculdade e logo, graças a uma prova, eu passara para aquele que seria, naquela altura, o trabalho ideal: a Rádio Globo. Da redação para o Departamento de Esportes seria um pulo. Mas, o caminho foi sendo trilhado para outra direção. Ainda como estagiária eu já atuava como profissional. Passei por várias editorias, menos de Esportes.

Entrevistei o Zico algumas vezes, mas, a essa altura, ser jornalista, já não era mais apenas uma escolha apaixonada. Ser jornalista era minha vida, o meu meio de subsistência e minha realização pessoal. A paixão pelo Zico continuava perfumando a escolha e as pernas ficavam bambas sempre que eu o encontrava. Mas a profissão era assunto mais sério agora, que envolvia outras paixões. E por algumas delas, fui obrigada a abrir mão dos rumos que eu traçara para mim.
Sonhava ajudar a mudar o mundo com meu jornalismo sério e sacramental. Imaginei-me nos lugares mais repugnantes, denunciando, retratando e buscando soluções. Queria fazer a diferença na vida das pessoas e do meu país. Mas, como fui educada pelo velho Seu Bebeto a ser responsável por minhas escolhas, me vi diante da condição de resignar-me e aceitar a vertente do jornalismo que, até então, era a que menos me seduzia. A liberdade da escolha, exige a responsabilidade das consequências.
Tenho orgulho de ter me tornado Assessora de Imprensa, de ajudar a divulgar empresas e projetos que para muitos fazem a diferença. Quantas famílias sustentadas graças a essas instituições e quantos projetos desenvolvidos que semearam esperança na vida de tanta gente. E, assim, fiz a diferença, principalmente, na vida dos meus três tesouros, que hoje são a minha razão , a minha meta, a minha causa, a minha recompensa... E, ainda, de quebra, graças ao suor do jornalismo que exerço, ainda pude fazer a diferença na vida do meu filho do coração, que hoje trilha por caminhos dignos e que me ajuda a por em prática o tal “amar ao próximo como a mim mesmo”.
Se eu amo o jornalismo? Se eu me orgulho da minha profissão? É meu sacerdócio, é meu ganha pão, é o meio sagrado do qual posso promover os sonhos dos que amo.... Se eu sou frustrada? Sou uma jornalista apaixonada que reverencia seu trabalho como quem está diante de um sacramento.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A razão

Às vezes parece que a razão está sem razão. Às vezes parece que a razão torce para que percamos a razão. Às vezes arrumamos pequenas grandes desculpas para não viver pequenos grandes momentos.
Às vezes parece que sabotamos nosso direito de ser feliz, simplesmente porque achamos piegas a felicidade.
Gosto da razão, sou muito simpática a ela, mas tenho meus receios quanto aos seus donos.
Às vezes a razão é tão pessoal, que chega a ser preconceituosa, ditadora e excludente.
Outras, ela parece impulsionar para situações que poucos imaginariam ser capazes de atingir, ou ter coragem de buscar.
Age, às vezes, como se fosse dona de tudo, porém é dona somente dela mesma.
Às vezes se faz juíza de todos. E, nós, réus confessos ou escandalosamente ocultos, com a cabeça a prêmio, somos levados à guilhotina da razão sempre que ousamos desobedecê-la.
Será que o inventor da razão deu a alguns o direito de se tornarem proprietários dela?
Eu confesso, às vezes, sou a razão em pessoa. Outras, sou puro instinto.
Entre ter razão e ser feliz eu escolho a Paz.

Das saudades que eu sinto...

Das saudades que eu tenho, somente as do futuro me permito sentir. As demais me causam aperto no peito e nao sou daquelas que cultivam o que faz doer. Certas vezes me flagro sentindo saudades de lugares que nunca fui mas que conheço como a palma da minha mão. Tratam-se de lugares sagrados, como o são todos os altares onde consagro minha existência, tirando felicidade de pedra. De onde correm leite, mel, suor e lagrimas de prazer. Em outras ocasiões me deparo com saudades de quem ainda nao conheci. Não conheço seu rosto, mas posso sentir de longe seu cheiro. Lembro daquela vez que ainda não dançamos juntos sob o luar, enquanto sussurrava poesias no meu ouvido. Do jeito que me olhará e da forma como suas mãos me tocarão com ar de quem conhece todos os meus atalhos. Sinto saudades de quando escreveremos a quatro mãos a crônica de nossa história, com um enredo repleto de preciosísmos e duplos sentidos e gargalhadas. Mas das saudades que eu sinto, a que mais sinto falta mesmo é dos dias em que não precisarei mais usar a fantasia, a máscara e as armaduras. Saudade é prato que se degusta acompanhado por taças de vinho. Com fé, quem sabe se consubstanciarão em redenção?