Clara não era frustrada, mas não negava alguns resquícios de lástimas.
Não sofria por isso, entendia que, simplesmente, deixava de ser ainda mais feliz.
Não havia em Clara a obsessão por ir atrás do tempo perdido, mas procurava compensá-lo à altura.
Costumava dançar em frente ao espelho, mas não dedicara-se à arte da dança como pretendia...
Sempre se viu andarilha, mas, ao contrário, Clara não percorrera os quatro cantos do mundo como planejara...
Ela que amava partilhar experiências, não conquistara o diploma de mestre, como se programara...
Admirava os moços do outro lado do mundo, mas Clara ainda não conhecera o nobre cavalheiro oriental dos seus sonhos...
Como Clara era imaginativa... Bastava fechar os olhos para se ver dançando de rosto colado com o mais lindo dos samurais, rodopiando pelo globo terrestre e ainda dando aula de como ser feliz.
E quem ousará dizer que Clara não era realizada?
No que estava ao alcance de suas mãos, Clara tratou de não perder tempo. Apressou-se em ser mãe dos filhos que idealizou. E como fazia isso com gosto.
Fazia do trabalho, uma religião. E com que prazer fazia isso.
No mais, quem será capaz de negar que Clara tinha o dom de alcançar seus sonhos, apenas fechando os olhos?
Para Clara, ser feliz era uma questão de ponto de vista, de imaginação, muito de entrega e um pouco de resignação.
Para Clara, ser feliz era questão de momento, de comprometimento, de determinação e alento.
E o que são resquícios de lástimas, diante de tanta vontade de ser feliz...
Sim, Clara era uma fabricante de imaginação!
Não era à toa que perdera a conta das vezes que assistira a sonhos, de kurosawa.
Mas Clara não era feita apenas de sonhos, era a própria construtora de vida. Era a realidade em pessoa. Porque ela acreditava que para ser feliz, bastava sonhar e estar vivo.
Adoro suas narrativas, um jeito leve de contar histórias. Bjka.
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