quarta-feira, 11 de abril de 2012

Memórias de Clara


Clara não era frustrada, mas não negava alguns resquícios de lástimas.
Não sofria por isso, entendia que, simplesmente, deixava de ser ainda mais feliz.
Não havia em Clara a obsessão por  ir atrás do tempo perdido, mas procurava compensá-lo à altura.
Costumava dançar em frente ao espelho, mas não dedicara-se à arte da dança como pretendia...
Sempre se viu andarilha, mas, ao contrário, Clara não percorrera os quatro cantos do mundo como planejara...
Ela que amava partilhar experiências, não conquistara o diploma de mestre, como se programara...
Admirava os moços do outro lado do mundo, mas Clara ainda não conhecera o nobre cavalheiro oriental dos seus sonhos...
Como Clara era imaginativa... Bastava fechar os olhos para se ver dançando de rosto colado com o mais lindo dos samurais, rodopiando pelo globo terrestre e ainda dando aula de como ser feliz.
E quem ousará dizer que Clara não era realizada?
No que estava ao alcance de suas mãos, Clara tratou de não perder tempo. Apressou-se em ser mãe dos filhos que idealizou. E como fazia isso com gosto.
Fazia do trabalho, uma religião. E com que prazer fazia isso.
No mais, quem será capaz de negar que Clara tinha o dom de alcançar seus sonhos, apenas fechando os olhos?
Para Clara, ser feliz era uma questão de ponto de vista, de imaginação, muito de entrega e um pouco de resignação.
Para Clara, ser feliz era  questão de momento, de comprometimento, de determinação e alento.
E o que são resquícios de lástimas, diante de tanta vontade de ser feliz...
Sim, Clara era uma fabricante de imaginação!
Não era à toa que perdera a conta das vezes que assistira a sonhos, de kurosawa.
Mas Clara não era feita apenas de sonhos, era a própria construtora de vida. Era a realidade em pessoa. Porque ela acreditava que para ser feliz, bastava sonhar e estar vivo.

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