quinta-feira, 8 de março de 2012

Eu não abro mão

Se tem uma coisa da qual eu não abro mão como mulher, é do direito de ser mulher com todas as suas nuances, vertentes, incoerências, mistérios, resistências, sensibilidades e, porque não?, fragilidades...

Tem mulher que, apesar de feminina, não gosta de ser mulher. E, eu respeito.

Ser do tipo mulherzinha, que faz charme, que gosta de cavalheirismo, que adora ganhar flores, que se enfeita até para dormir, que faz de certas situações simples verdadeiros eventos com direito à luz de velas, champagne e festa. Que aprecia e guarda como relíquias pequenos objetos, que para muitos seria lixo, como o amante de vinhos preserva a melhor garrafa de sua adega...

Mas eu gosto muito mesmo é de ser mulher. Não sei se vêem isso com bons olhos. Tudo bem, eu respeito.

Só que, na selva, fragilidade deve ser camuflada, para não ser devorada. É a lei da sobrevivência. A expressão popular às avessas vale para mim: “cordeiro em pele de loba”. Portanto, não espalhem por aí a minha mansidão...

Da existência feminina, o que eu tive mais pressa e prazer foi do direito de ser mãe.

De segunda à sexta, uma leoa à caça do sustento da prole. Nos finais de semana, uma coruja de olhos arregalados para admirar, cuidar, educar...

Mesmo exausta da labuta do dia a dia, não tenho o menor pudor de pesquisar na rede uma nova receita a cada fim de semana. Que delícia é vê-los ao redor da mesa degustando o meu carinho, saciando-se do meu amor e sorrindo satisfeitos...

Fico tão prosa ao ver como fazem questão da minha compania no cinema, nas rodas de War, na pizzaria ou nos desafios das trilhas desvendando cachoeiras e outras paisagens paradisíacas. Gosto quando me ajudam a vencer obstáculos e os recompenso não desistindo de nenhum deles. Enquanto admiram o cenário do alto, após a longa jornada cheia de percalços, eu fico só apreciando a mais fantástica das cenas: os frutos das minhas entranhas fazendo do mundo mais deslumbrante...

Na academia, me esforço para fazer bonito e eles me apresentam para os amigos orgulhosos. Que bom quando a turma sugere: "chamem sua mãe para ir com a gente".

Visto-me de forte quando me confidenciam o que nunca pude falar quando tinha a idade deles. Quando me elegem para esclarecer as mais desafiadoras transformações que a vida causa, disfarço o meu constrangimento e respondo com uma máscara de segurança .

Se tempo é questão de preferência, está aí a minha.

E, por enquanto, não abro mão de nenhum um segundo disso.

E, em tempos modernos, onde o conceito e formação da família núcleo da sociedade não são mais o mesmo de outrora, dou-me por satisfeita com a que fui agraciada de formar. Não tem algumas figuras tradicionais, e daí? Em compensação, tem outros elementos que, por Deus, nem se eu tentasse adivinhar lá atrás, nunca poderia imaginar que algum dia eu teria o privilégio de comandar...

Se sobra tempo para ser mulher? E o que é isso senão a mais nobre realização que minha condição feminina me permite?

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