Fez questão de guardar os cacos em um pote, que preferiu
deixar para trás. Sabia que não chegaria longe se carregasse o peso de pedaços
de passado.
Pelo caminho, também deixou bagagens cheias de vazios torturantes, que não tinham serventia alguma e que ainda eram impregnados de
condenações.
Preferiu a absolvição da liberdade, de olhar só para frente.
Despiu-se da roupa encharcada de choro; andou nua por uns
tempos e depois costurou uma veste nova com os retalhos que a estrada
desvendava.
Custou um tanto a descobrir que é na história que está por
construir que estão seu sentido e direção, e não nas páginas que já foram
escritas com canetas de penas de si própria ou de outrem.
Merecia uma história nova e a cada vez que encontrava
resquícios do que o tempo fez questão de
deixar para trás, imediatamente; guardava em novos potes, largados pelo caminho,
sem pistas de seu paradeiro.
Se no final do arco íris existem potes cheios, não é para lá
que planeja ir. Em sua comitiva só cabem os potes vazios, que têm mais
utilidade...
E, se nos potes, existiam tesouros, quem os encontrar saberá
usufruir.
Caso precise de mais potes vazios lá pela frente, a
experiência ensinou a esculpi-los com barro e saliva.
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